É difícil imaginar ser aprisionado em um porão por meses, em alguns casos, anos a fio. É ainda mais difícil imaginar ser colocado lá pelo seu próprio pai e ser abusado física, mental e sexualmente. Nenhuma vida humana merece passar por tortura dessa natureza.
No entanto, infelizmente, já aconteceu (mais de uma vez). Em 2008, uma mulher de 42 anos, chamada Elisabeth Fritzl, disse à polícia na Áustria que tinha sido mantida em cativeiro no porão da casa de seu pai por 24 anos. Joseph Fritzl a torturou fisicamente e abusou sexualmente da filha várias vezes durante os anos em que a manteve presa. Resultou em sete filhos, quatro dos quais se juntaram a sua mãe no cativeiro, três dos quais foram criados por Joseph e sua esposa.
O caso Fritzl trouxe algumas lembranças horríveis do passado, especificamente de crianças que foram sequestradas e passaram anos em cativeiro. Estes dez casos, em particular, obtiveram muita atenção na mídia, mas, infelizmente, nenhuma atenção deu a essas crianças essa parte perdida de sua infância de volta.
10. Elizabeth Shoaf, EUA – dez dias
Em 2006, Elizabeth Shoaf foi sequestrada, aos 14 anos de idade, por Vinson Filyaw, que se apresentava como policial. Ele disse que ela estava sendo “detida” e a levou para a floresta. Lá, em um bunker escuro e apertado, que ele cavou no chão, a desnudou e a acorrentou pelo pescoço.
Durante dez dias, ele a estuprou várias vezes por dia.
Quando foi levada para a floresta, Elizabeth deixou cair os sapatos com a esperança de alguém encontrá-los. Mais tarde, quando ela ganhou a confiança do sequestrador e teve permissão para respirar ar fresco do lado de fora do bunker, ela arrancava fios de cabelo e os jogava no chão como pistas.
Elizabeth finalmente se salvou enviando a sua mãe uma mensagem de texto do telefone do sequestrador depois dele ter ido dormir. Depois de ver na TV que a polícia estava procurando por ele, Filyaw tentou fugir, e Elizabeth saiu do bunker. Ela foi encontrada na floresta e levada ao hospital.
Filyaw foi encontrado e condenado a 421 anos de prisão.
Este foi o bunker subterrâneo Elizabeth que foi mantida por dez dias.
9. Shasta Groene, EUA – sete semanas
Em maio de 2005, a polícia encontrou os corpos de Brenda Groene, seu filho de 13 anos, Slade, e seu namorado, Mark McKenzie, na casa deles em Coeur d’Alene, Idaho. O filho de nove anos de Brenda e sua filha de oito anos, Shasta, estavam desaparecidos.
Sete semanas depois, uma garçonete de um restaurante reconheceu Shasta, que estava desaparecida por semanas, em companhia de um homem desconhecido. Quando Shasta foi resgatada e entregue a seu pai, as autoridades informaram que havia pouca esperança de encontrar Dylan vivo.
Dois dias depois, os investigadores encontraram restos humanos em um acampamento remoto. Eles foram identificados como sendo de Dylan.
Durante o cativeiro, Shasta e Dylan foram repetidamente molestados pelo sequestrador, Joseph Duncan, que disse às crianças como ele havia matado sua família com um martelo.
As filmagens de segurança que mostram o pedófilo e assassino Joseph Duncan com Shasta Groene.
8. Sabine Dardenne, Bélgica – 80 dias
Em 1996, Sabine Dardenne, de 12 anos, foi sequestrada pelo pedófilo e assassino em série Marc Dutroux, conhecido como “O Monstro da Bélgica”, enquanto ela estava andando de bicicleta para a escola.
Ela foi mantida no pequeno porão de Dutroux, onde foi acorrentada e abusada sexualmente regularmente. Ele disse a Sabine que seus pais não estavam procurando por ela e eles se recusaram a pagar resgate. Ele também se descreveu como “seu salvador”, lembrando-lhe constantemente que “o chefe” queria matá-la.
Criou-se suspeitas de um grupo de pedófilos, mas a investigação foi suspensa depois que Dutroux, mais tarde, confessou que agiu sozinho.
Sabine foi mantida em cativeiro por 74 dias antes de pedir ao sequestrador um amigo. Ele então sequestrou Laetitia Delhez, de 14 anos, mas seu carro foi reconhecido pelos habitantes locais. Laetitia passou seis dias em cativeiro antes que as duas meninas fossem encontradas, apenas dois dias depois de Dutroux ter sido preso.
Dutroux também foi responsável pela morte de mais quatro jovens. Melissa Russo e Julie Lejeune, de oito anos de idade, também sequestradas e abusadas sexualmente, morreram de fome no mesmo porão, enquanto Dutroux estava na prisão por roubo de carros. Em uma segunda série de matanças, Dutroux enterrou vivas as jovens An Marchal e Eefje Lambrecks, de 17 anos ambas.
Dutroux nunca confessou assassinar nenhuma das meninas, mas ele foi condenado à prisão perpétua, embora tenha escapado brevemente em 1998.
Sua esposa e cúmplice Michelle Martin, que foi responsável por deixar Russo e Lejeune morrerem de fome enquanto Dutroux estava preso por roubo de carro, foi condenada a 30 anos de prisão. Ela foi liberada 16 anos depois de sua sentença.
Este foi o porão secreto onde Julie e Melissa morreram de fome, e Sabine e Laetitia foram mantidas. Quando as autoridades procuraram a casa de Dutroux enquanto ele estava na prisão por roubo de carros, eles ouviram gritos de Julie e Melissa de oito anos, mas não conseguiram encontrar a entrada do porão, levando-os a acreditar que os gritos vinham de fora.
7. Elizabeth Smart, Utah, EUA – nove meses
Em 2002, Elizabeth Smart foi sequestrada de sua casa em Salt Lake City, Utah, sendo ameaçada com uma faca. Sua irmã mais nova, Mary Katherine, viu tudo acontecer e imediatamente reconheceu a voz do sequestrador, mas depois não conseguiu dizer às autoridades de onde conhecia sua voz.
Ela foi levada para o bosque por um homem mais tarde identificado como Brian David Mitchell, e sua esposa Wanda Banzee. Ela foi acorrentada e “casada” com Mitchell através de uma cerimônia religiosa, após a qual Mitchell a violou repetidamente.
Ela foi mantida na floresta por nove meses, durante a qual ela foi levada a beber álcool e assistir pornografia. Eventualmente, quatro meses após o sequestro de Elizabeth, sua irmã mais nova lembrou de onde conhecia a voz e ajudou a fazer um retrato falado. Foi apresentado no America’s Most Wanted (programa que divulga criminosos procurados).
Um motociclista que assistiu ao programa reconheceu Mitchell enquanto ele saia com duas mulheres (Wanda e Elizabeth) e alertou as autoridades.
Inicialmente considerado incapaz de ser julgado, Mitchell finalmente obteve duas sentenças de prisão perpétua e Barzee foi condenada a 15 anos de prisão por seu papel no sequestro.
Elizabeth Smart foi encontrada viva em Sandy, em 12 de março de 2003.
6. Shawn Hornbeck, Missouri, EUA – quatro anos e três meses
Shawn tinha 11 anos de idade quando foi sequestrado, enquanto andava de bicicleta, por Michael J. Devlin em 2002. Ele passou mais de quatro anos em cativeiro.
Shawn passou seu primeiro mês em cativeiro amarrado em um colchão e com sua boca tapada com fita adesiva. Seu sequestrador ameaçou que se ele tentasse escapar, seria morto.
Além de anos de tortura, abuso e ser forçado a assumir o nome de Shawn Devlin, o sequestrador do menino produziu fotos pornográficas e fitas de vídeo de Shawn. Ele também levou Shawn para outros estados para se envolver em atos sexuais.
Até que Devlin sequestrou Ben Ownby, de 13 anos, e seu vizinho Mitchell Hults reconheceu a van de Devlin, levando a polícia a invadir o apartamento do sequestrador. Eles encontraram Ben quatro dias depois, e para a surpresa de todos, também encontraram Shawn Hornbeck lá.
Michael J. Devlin foi condenado por sequestro, abuso sexual infantil e produção de pornografia infantil. Ele foi sentenciado a centenas de anos, resultando em uma pena total de 1.850 anos.
Ele está preso desde 2008 e já foi atacado por outro preso, mas sobreviveu.
5. Steven Stayner, Califórnia – sete anos, três meses e dez dias
Steven Stayner tinha apenas sete anos quando foi abordado por Ervin Edward Murphy, em 1972. Murphy era um conhecido do homem que mais tarde seria o sequestrador de Steven, Kenneth Parnell. Murphy convenceu o jovem a entrar no carro de Parnell, que já tinha sido condenado por pedofilia, e levou o menino para uma cabine. Na manhã seguinte, ele o molestou.
Steven foi informado pelo seu sequestrador de que seus pais o abandonaram porque não podiam sustentar muitos filhos, e Parnell agora tinha custódia legal sobre ele. Ele o renomeou de Dennis Gregory Parnell e o matriculou em várias escolas nos anos seguintes.
Quando Steven envelheceu e entrou na puberdade, Parnell começou a procurar uma vítima mais jovem. Ele finalmente sequestrou Timmy White, de cinco anos de idade. Em 1980, enquanto Parnell estava ausente em seu trabalho de segurança, Steven pegou Timmy e fugiu. Eles voltaram para Ukiah, mas incapazes de encontrar o endereço residencial de Timmy, Steven o levou à polícia. Os meninos foram identificados e devolvidos às suas famílias.
Parnell foi preso e condenado por sequestro, mas ele não foi acusado de agressão sexual. Ele foi condenado a sete anos de prisão, mas só serviu cinco.
Steven Stayner morreu em um acidente de moto em 1989, com 24 anos de idade. Timmy, que tinha 14 anos na época, ajudou a carregar seu caixão no funeral.
4. Natascha Kampusch, Áustria – oito anos e cinco meses
Em 1998, Natascha Kampusch, com dez anos de idade, foi arrastada para uma van branca a caminho da escola.
Foi o técnico de comunicação Wolfgang Priklopil que a levou e a trancou dentro de um pequeno porão de 1,5 metros quadrados, sem janelas e insonorizado sob sua casa. A porta era feita de concreto e aço reforçado e muito escondida.
Nos primeiros seis meses de seu cativeiro, Natascha não podia deixar o porão minúsculo, úmido e escuro. Ela perdeu toda sensação de tempo e nunca via a luz do dia. Depois de um longo período de tempo, ela foi levada para o andar de cima com seu sequestrador, onde ela faria tarefas para Priklopil.
Ele tinha um TOC terrível, e colocava Natascha para limpar sua casa. Ele batia nela a qualquer momento, por deixar uma simples impressão digital e por muitos outros motivos. Ele a fazia usar uma toca de plástico sobre os cabelos e, eventualmente, acabou por raspar a cabeça dela. Por oito anos, Natascha foi espancada, passou fome e era mantida meio nua.
Então, um dia, Priklopil decidiu deixar Natascha aspirar seu carro. Enquanto ele falava ao telefone, Natascha fugiu, o mais rápido que pôde, sem nem pensar onde estava. Ela encontrou uma casa, bateu na porta e gritou: “Eu sou Natascha Kampusch!”, considerando que as pessoas estariam procurando por ela.
Na época de sua fuga, Natascha tinha 18 anos de idade, pesava apenas 100 quilos e tinha crescido apenas 15 centímetros desde que foi sequestrada. Pouco depois de Natascha ter escapado, Priklopil saltou na frente de um trem. Natascha teria ficado triste ao saber do suicídio dele, levando especialistas a acreditar que ela sofria de síndrome de Estocolmo.
Em 2010, ela lançou um livro chamado “3096 Dias”, que também foi transformado em filme. Somente em 2013, Natascha admitiu que Priklopil a estuprou repetidas vezes.
Foi um dos sequestros mais publicitados do mundo, devido à duração do seu cativeiro e a suspeita, por parte da polícia, que sua mãe estivesse envolvida em seu desaparecimento.
3. Fusako Sano, Japão – nove anos, dois meses
Fusako Sano tinha nove anos de idade quando foi sequestrada, em 1990. Ela foi levada por Nobuyuki Satō, um japonês mentalmente perturbado de 28 anos de idade que morava em um apartamento com sua mãe idosa.
Ele manteve Fusako em uma sala no andar de cima de seu apartamento. Sua casa estava a apenas 200 metros da delegacia de polícia local. As autoridades ainda fizeram uma busca na casa, mas não encontraram Fusako.
Durante os primeiros meses, Fusako foi mantida amarrada. Durante seu cativeiro, ela foi repetidamente espancada e ameaçada com uma faca. Ela também seria punida com uma arma de choque. Satō cortou os cabelos dela e a vestia com suas roupas.
Embora as portas nunca estivessem trancadas, Fusako nunca tentou escapar. Primeiro porque ela tinha medo, eventualmente porque ela perdeu as forças para escapar e desistiu.
Após nove anos, foi a mãe de Satō que alertou as autoridades porque seu filho estava agindo estranho e mostrando comportamento agressivo. Fusako foi encontrada e Satō foi preso e condenado a 14 anos de prisão.
Fusako nunca se recuperou completamente. Ela diz ter a mente de uma criança e um grave transtorno de estresse pós-traumático.
2. Amanda Berry, Gina DeJesus e Michelle Knight, Cleveland, EUA – dez anos e nove meses
Michelle foi a primeira das três a ser sequestrada por Ariel Castro, em 2002. Ela tinha 21 anos no momento do sequestro. Oito meses depois, Castro sequestrou Amanda Berry no dia anterior ao seu 17º aniversário e, um ano depois, pegou Gina DeJesus. Ela tinha 14 anos.
Michelle Knight foi levada no dia em que ela estava agendada para comparecer no tribunal para um caso de custódia envolvendo seu filho Joey. Ela foi enganada para seguir a casa de Castro sob a falsa promessa de receber filhotes de cachorros. A polícia gastou recursos limitados em encontrá-la por causa de sua idade.
Na casa de Castro, Michelle estava acorrentada por seus braços, pés e pescoço, e só foi alimentada no terceiro dia após seu sequestro. Ela foi repetidamente espancada e violada violentamente por Castro. Ele a engravidou pelo menos cinco vezes ao longo de dez anos, mas induziu abortos a espancando e a deixando passar fome.
Depois que Amanda Berry se juntou a ela, as duas mulheres foram acorrentadas umas às outras. Ele também engravidou Berry, que deu à luz em cativeiro. Michelle ajudou no parto.
Mais um ano depois, Gina DeJesus foi colocada junto das duas outras mulheres, uma menina de 14 anos. Seu sequestro não foi testemunhado, então não houve nenhum alerta emitido.
No dia da fuga, em abril de 2013, foi Berry quem entrou em contato com os vizinhos, depois que Castro não conseguiu bloquear a grande porta interna da casa. A porta de chuva exterior estava parafusada, mas Berry gritou quando viu um vizinho pela tela. Eles arrombaram o local e Berry e sua filha de 6 anos escaparam. Berry chamou a polícia da casa de um vizinho e teria dito “Me ajudem. Sou Amanda Berry. Fui sequestrada e fiquei desaparecida há 10 anos. E eu estou aqui. Agora estou livre.”
Castro foi preso nesse dia, e acusado de sequestro, estupro, assassinato agravado, tentativa de assassinato e agressão. Ele foi condenado a mais de mil anos de prisão, mas um mês depois de sua sentença, guardas o encontraram enforcado em sua cela.
Ariel Castro (à esquerda) e a casa onde manteve Michelle, Amanda e Gina por mais de dez anos.
1. Jaycee Dugard, Califórnia – 18 anos e dois meses
Jaycee Dugard tinha apenas 11 anos quando foi sequestrada no caminho da escola para casa, em 1991. Seu sequestrador Phillip Garrido a atacou com uma arma de choque, deixando ela inconsciente. Ele foi ajudado por sua esposa Nancy, que examinou Jaycee como um “prêmio” para o marido.
Quando os Garridos chegaram em sua casa, eles já removeram toda a roupa de Jaycee. Phillip a envolveu em um cobertor e a trancou em uma pequena quarto à prova de som que ele fechou. Jaycee permaneceu algemada durante a primeira semana, enquanto ele trouxe comida e milkshakes. Após sua primeira semana de cativeiro, Garrido obrigou Jaycee a tomar banho com ele e a estuprou pela primeira vez. Ela ainda estava algemada.
Meses depois, Jaycee foi transferida para um quarto maior e algemada na cama. Seu sequestrador consumia metanfetamina e durante o efeito da droga, vestia Jaycee e eles cortavam fotos pornográficas juntos.
Quando Garrido foi à prisão por não passar em um teste de drogas, sua esposa Nancy o substituiu como carcereira de Jaycee.
Aos 13 anos, Jaycee ficou grávida de seu primeiro filho. Esta foi a primeira vez que seus sequestradores começaram a alimentar ela com refeições quentes. Três anos depois, ela deu à luz outra filha. Jaycee foi forçada a dizer às filhas que ela era sua irmã mais velha e Nancy Garrido era sua mãe.
Quando Jaycee finalmente foi encontrada, ela se recusou a admitir o que aconteceu com ela, e inventou uma história. Até Garrido ter confessado o que tinha feito com Jaycee e revelou sua identidade. Mais tarde, ficou claro que, após 18 anos de prisão, Jaycee sofria de síndrome de Estocolmo.
Milagrosamente, Jaycee cresceu para ser uma adulta educada e inteligente, assim como suas filhas. Não tinham dificuldades de aprendizagem ou dificuldades sociais.
Houve inúmeras oportunidades perdidas para resgatar Jaycee, mas ela não foi encontrada até 2009. Em 2011, os Garridos foram declararam culpados de sequestro e estupro. Phillip foi condenado a 431 anos de prisão e Nancy recebeu 34 anos. Jaycee escolheu não participar da sentença.