Enquanto Mary, Rainha dos Escoceses sucumbiu à Rainha Elizabeth I – e ao machado do carrasco -, Grace O’Malley foi outra “rainha” que desafiou a monarca inglesa por quase 40 anos, pilhando navios ingleses e repelindo ferozmente as forças que tentavam roubar a terra da família dela.
Essa saqueadora rebelde compartilhou muitas características com Elizabeth. Ambas tinham mais ou menos a mesma idade, desafiaram as probabilidades e prosperaram num mundo masculino, tinham a lealdade de seus súditos e estavam acostumadas a vencer.
Mas enquanto Elizabeth governou a Inglaterra, a outra rainha governou um clã marítimo consideravelmente menor. Ela era a rainha-pirata irlandesa, Grace O’Malley.
Grace O’Malley nasceu por volta de 1530, de Owen O’Malley, o chefe de um clã que governava a área em torno de Clew Bay, na costa oeste da Irlanda, por mais de 300 anos. Durante esse tempo, eles fizeram riqueza tanto da pirataria quanto do comércio legítimo com a França e a Espanha.
Quando o pai de O’Malley morreu, ela se tornou a rainha de seu clã. E ela sabia como navegar no mundo político local de clãs e chefes forjando alianças estratégicas.
Na época, as mulheres eram frequentemente usadas como uma ferramenta para criar alianças por meio do casamento, o que tornaria os homens envolvidos mais poderosos. Mas a história de O’Malley vira essa ideia de ponta-cabeça. Ela se casou duas vezes, mas a cada vez foi o poder dela que aumentou.
Após a morte de seu primeiro marido em 1554, ela herdou seus navios de combate e castelo com apenas 23 anos. Em 1567, ela se divorciou de seu segundo marido após um ano de casamento, assumiu o controle de seu castelo e de alguma forma ainda manteve sua lealdade, como um aliado.
No auge de seu poder, ela tinha centenas de homens e numerosos navios à sua disposição.
Do Castelo de Rockfleet e sua fortaleza na Ilha de Clare, Grace lançava suas galés e embarcava em qualquer navio que passasse pela baía de Clew Bay e exigia impostos em troca de uma passagem segura para a cidade de Galway, no sul.
Histórias de sua coragem e habilidade marítima foram passadas através de poemas e folclore irlandeses. Em um relato, um corsário turco teria atacado seu navio um dia depois de ela ter dado à luz seu filho Theobald. Enquanto os turcos abordavam, ela pulou da cama e invadiu o convés, armada com dois bacamartes.
Os perplexos turcos pararam de brigar e ela gritou: “Tome essa carga de mãos não consagradas!” antes de disparar suas armas e matar seus oficiais. O resto dos turcos ficaram desanimados com a perda de seus oficiais e O’Malley capturou facilmente seu navio.
Mas sua história mais notável começou quando Elizabeth I chegou ao poder, em 1558. Elizabeth queria aumentar o controle inglês na Irlanda e, assim, chegou às vias de fato com Grace O’Malley.
O clã O’Malley era um dos poucos clãs que resistiram a Elizabeth enquanto os navios ingleses tiveram que enfrentar as proezas piratas de O’Malley, pois as numerosas baías ao longo da costa irlandesa tornavam-na perfeita para lançar ataques surpresa contra os ingleses desavisados.
Em março de 1574, os ingleses estavam fartos. Eles enviaram navios e um exército de homens para atacar a base de O’Malley no Castelo de Rockfleet. Mas dentro de semanas ela os repeliu a uma retirada humilhante.
No entanto, Grace O’Malley encontrou alguém à sua altura em Sir Richard Bingham. Ele foi nomeado o novo governador da área, em 1584. O irmão de Bingham matou o filho mais velho de O’Malley, enquanto Bingham aprisionou o caçula dela. Então ele assumiu o controle da fortaleza do Castelo de Rockfleet e confiscou suas terras, gado e frota. Ele deixou O’Malley de joelhos.
Aparentemente sem saída, O’Malley fez algo notável. Na primavera de 1593, ela trocou as táticas marítimas por sua habilidade diplomática ao buscar uma audiência com Elizabeth.
Apesar de protestos de Bingham, Elizabeth se encontrou com Grace O’Malley no Palácio de Greenwich no verão de 1593. Os relatos da reunião variam muito, com alguns dizendo que O’Malley se recusou a se ajoelhar, levou uma adaga e recusou a oferta de Elizabeth de dar a ela o título de condessa, porque iguais não poderiam conferir títulos uns aos outros.
De qualquer maneira, o que parece claro é que O’Malley defendeu seu caso contra Bingham. Elizabeth ordenou a liberação do filho de O’Malley e o retorno de suas terras em troca de sua ajuda na luta contra os inimigos da Inglaterra no exterior.
Grace O’Malley provou ser uma rival notável de Elizabeth em suas habilidades militares e políticas. Ela foi uma das poucas rivais a conquistar o respeito da rainha inglesa. Eventualmente, ela morreu em 1603, no mesmo ano que Elizabeth.